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O Aborto e a Mulher Viva


Nos últimos tempos, em especial essa semana, o assunto mais polêmico entre as mulheres brasileiras foi a possibilidade de legalização do aborto. Desejo e luto incansavelmente, há mais de 20 anos, por desfechos positivos para as mulheres, soluções que somem, que tragam paz, humanização da assistência, equilíbrio, valorização do corpo, da mente, do útero e da alma de cada mulher. Não sou política de carteirinha, mas sou pacifista e ativista política sim, quando o assunto diz respeito às Mulheres Vivas, que merecem o melhor! Sei que são muitos problemas, conflitos e crises, muitas vezes envoltos por escuridão de pensamentos, sentimentos e atitudes internas e/ou externas, em geral distantes de nosso planejamento de vida e controle, mas não aceito soluções ruins para problemas de quaisquer natureza!

Vivemos numa sociedade machista, desigual, desrespeitosa e abusadora conosco. E mesmo tendo consciência das agressões e assédios nos enganamos em situações em que manipulam a nossa opinião, onde acreditamos ter poder de decisão, autonomia, mas acabamos por fazer escolhas equivocadas. Sempre digo: autonomia sem informação de qualidade não existe. Por isso, vem da energia do meu ventre (e essa honra nenhum homem poderá ter porque somos diferentes sim), o meu compromisso de mulher, médica e mestre em saúde pública, em trazer informação de qualidade. Não trago aqui juízo de valores, julgamentos, religiões, gêneros, dores ou ódios. Trago verdade científica, desejo de libertação de cada Mulher Viva, de cada útero oprimido pela banalização de sua grandeza a partir de uma sociedade patriarcal que os despreza, desvaloriza e tenta feri-lo com distorções e redução de sua energia vital. Não posso me calar diante de tanto equívoco e tentativa de destruição de nossa força de mulher.Por isso, preparei o texto abaixo e espero colaborar para o saber e a vida de cada leitora.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define aborto como o término da gravidez antes de 20 semanas de gestação ou com o feto que nasce pesando menos de 500g. Os abortos dividem-se basicamente em espontâneos (naturais) e induzidos (provocados), sendo estes ilegais em nosso país se não houver risco de vida para mãe, anencefalia fetal ou estupro.

O aborto pode ser realizado por métodos clínicos e cirúrgicos. No Brasil, o aborto legalizado é hospitalar e geralmente é iniciado por ocitocina intravenosa em altas doses ou introdução de altas doses de comprimidos de misoprostol intravaginais, seguido de esvaziamento uterino cirúrgico após início de dor e hemorragia da mulher. As abordagens transcervicais ao aborto cirúrgico requerem inicialmente a dilatação do colo uterino e, a seguir, evacuação da gravidez pela raspagem mecânica de seu conteúdo, curetagem por sucção ou ambas. A curetagem geralmente requer sedação ou analgesia. Além de sedativos administrados por via oral ou intravenosa, há relatos de bloqueio paracervical com lidocaína, com ou sem analgésicos (Allen, 2009; Cansino, 2009). A aspiração à vácuo, a forma mais comum de curetagem por sucção, requer uma cânula rígida conectada a uma fonte de vácuo movida a energia elétrica (Mac Isaac e Darney, 2000; Masch e Roman, 2005). A aspiração a vácuo manual usa uma cânula semelhante que se conecta a uma seringa portátil para a sua fonte de vácuo (Goldberg, 2004).

A probabilidade de complicações aumenta após o primeiro trimestre, como perfuração uterina, laceração cervical, hemorragia, remoção incompleta do feto e placenta, além de infecções (Williams, 2012). O estudo francês EPIPAGE encontrou um aumento de 1,5 vezes na incidência de parto pré-termo – 22 a 32 semanas – em mulheres com história de aborto induzido (Moreau e cols, 2005). Os múltiplos procedimentos de aborto com curetagem podem aumentar o risco subsequente de placenta anterior/prévia (Johnson e cols., 2003).

De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists (2009), existem algumas contraindicações ao abortamento clínico, como DIU in situ, anemia grave, coagulopatia ou uso de anticoagulante e condições médicas significativas, como doença hepática ativa, doença cardiovascular e transtorno convulsivo não controlado. Além disso, mulheres em terapia com glicocorticoides não podem utilizar o misoprostol e mulheres com insuficiência renal têm restrições em relação ao metotrexato – drogas abortivas que provocam má formação no feto.

A incidência da perfuração uterina associada à dilatação e curetagem para o aborto eletivo provocado é variável - dependem de experiência do clínico e posição do útero. A probabilidade de perfuração será maior se o útero estiver retrovertido. A perfuração uterina acidental geralmente é reconhecida quando o instrumento penetra profundamente sem resistência no interior da pelve. Consideráveis lesões intra-abdominais podem ser causadas por instrumentos, especialmente as curetas de aspiração e raspagem, passadas através de um defeito uterino para o interior da cavidade peritoneal (Keegan e Forkowitz, 1982). Nesse caso, a laparotomia para examinar o conteúdo abdominal é geralmente o curso de ação mais seguro. Dependendo das circunstâncias, a laparoscopia pode substituí-la. A lesão intestinal não reconhecida pode causar peritonite grave e sepse (Kambiss e cols, 2000).

O abortamento eletivo, seja cirúrgico ou clínico, ocasionalmente se complica com infecções graves e fatais (Barret, 2002; Ho, 2009). As bactérias que colonizam os produtos da concepção mortos iniciam a infecção materna pelo útero com possibilidade de se estender, causando parametrite, peritonite, septicemia e endocardite (Vartian, 1991). São particularmente preocupantes as infecções necrosantes graves com síndrome de choque séptico causadas por estreptococos do grupo A (Daif, 2009). Na presença de sepse grave é possível haver o desenvolvimento da síndrome respiratória aguda ou coagulopatia intravascular disseminada, e os cuidados de suporte são essenciais. Algumas mulheres desenvolvem incompetência cervical ou sinéquias uterinas após a dilatação e curetagem.

O aborto realizado por meio de curetagem em gestações mais avançadas pode induzir à ocorrência de coagulopatia de consumo súbita e grave, podendo ser fatal. Para Williams (2012), editor responsável pelo tratado de Ginecologia mais importante no mundo, os que contemplam a realização do aborto devem compreender o potencial destas complicações raras, porém graves.

Constata-se então, a gravidade da medicalização excessiva, dos riscos cirúrgicos e anestésicos, das possíveis complicações e da violência provocada no corpo da mulher a partir dos procedimentos acima descritos para provocar a morte fetal e o aborto. Será essa a melhor opção para vida da mulher? A mulher que se ama, se cuida, dá valor à própria vida, seja pobre ou rica, preta ou branca, aceita subjugar-se a uma violência de tal gravidade? E aqueles que a amam, a valorizam, a respeitam, podem pensar em incentivar tamanha violência? Obviamente o aborto não é boa opção para ninguém, nem para as pessoas que a induzem a provocar o aborto e tornam-se assim corresponsáveis pelo ato, nem para mãe que se coloca em situação de risco, perigosa para o próprio corpo e para própria vida, tampouco para o filho, que perde sua vida definitivamente, sem chance de defender-se. São situações muito delicadas e o desequilíbrio toma conta do coração e da mente das pessoas envolvidas. Cada um de nós pode mudar essa realidade, levando informação para que a gravidez não planejada não ocorra ou apoiando a mulher grávida para que prossiga sua vida e gestação amparada e fortalecida.

É muito ruim obrigar uma mãe a criar um filho indesejado, mas também é muito ruim uma família desejar um filho e não poder tê-lo, por isso, nos casos em que não há possibilidade da mãe ficar com seu filho o encaminhamento da criança para adoção é uma boa e saudável alternativa para todos. Mas o ideal mesmo é a concepção consciente, sobre a qual falarei na próxima semana. Dessa forma, as mulheres não precisam submeter-se à medicalização e à violência do aborto provocado, os bebês têm possibilidade de sobreviver e as pessoas envolvidas tornam-se corresponsáveis pela harmonia, saúde, valorização e preservação da vida humana, respeitando as leis naturais do Universo. Viva Mulher Viva!

Luciana Lopes Lemos Mulher Viva, Mãe, Médica, Mestre, Especialista em Saúde da Mulher

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