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Relato de Parto: Talita e Serena


Há 15 dias eu estava deitada, com braços abertos em posição de Cristo, meu ventre sendo aberto por um bisturi cuidadoso e minha vindo ao mundo. Sou Talita Matos, professora de yoga, natureba, adepta ao parto natural e a uma vida natural, e tive uma cesária depois de 22 horas de trabalho intenso de parto.

Nunca me identifiquei muito com meu signo, capricórnio, mas agora consigo entender um pouco mais na minha faceta mais obstinada. Tivemos uma concepção consciente, Serena é fruto de um amor consistente, me alimentei bem, incluía nas semanas os alimentos que o aplicativo indicava como os mais necessários para aquela fase de desenvolvimento do bebê, dei aulas de yoga até os 8 meses de gravidez, refinei minha própria prática e meditei todas as manhãs. Mensalmente vivemos as consultas de 1h30 com a Dr. Lu. Era oportunidade de ouvir o coração de Serena e abrir o nosso, de imaginar e saber mais sobre o parto humanizado.

Nas últimas semanas, inclui na minha rotina as caminhadas, as reboladas e os agachamentos, recomendados para preparar o corpo para o parto, estava pronta para parir de cócoras se assim sentisse. Nos últimos dias, sexo, chá de gengibre com canela e muitas gotinhas de homeopatias. Encarei de forma madura e amorosa a presença da minha mãe, busquei curar mágoas, conversei com uma árvore na Quinta da Boa Vista.

Há 16 dias enquanto ouvia o mesmo mantra que ouço agora, meu companheiro iniciou uma sessão de massagem thai na sala de casa, minha mãe sentada no sofá nos observando, era um domingo à noite. Assim vieram as primeiras contrações, que foram ritmando enquanto eu fechava os olhos e me entregava. No início da fase ativa, fomos para o hospital, só aí teria um textão para relatar, mas vou pular.

Foram 22 horas de dor e amor, primeiro uma dor sozinha na madrugada, isolando a cada contração, bicho na caverna. Assim que amanheceu me entreguei nos braços do meu companheiro, só queria ele, estávamos juntos nessa, eu, ele e Serena. Por volta do meio dia a bolsa estourou e todos nós achamos que ela iria nascer: Serena vai nascer na luz do dia, eu disse. Meu corpo dilatou ao máximo e ela não veio. Segui com as contrações ritmadas por mais 6 horas, achei que estava no período expulsivo, mas não estava, no exame de toque vimos que ela ainda estava muito alta. Logo eu que ouvi a gravidez inteira que minha barriga era baixa, que eu iria parir igual índio, eu que não tinha nenhuma dúvida de que sabia parir e de que Serena sabia nascer, eu que me preparei tanto, que virei ativista do parto humanizado, que assisti todos os documentários e partos no youtube, que tinha o corpo pronto e saudável.

Sim, eu tive uma cesária porque não tenho o controle. Pude fazer todas as melhores escolhas para olhar pra trás e dizer: tive uma gravidez linda e ativa, meu estado foi de pleno prazer e alegria, o caminho que julgava ser uma preparação para um fim exitoso, era apenas o caminho e como caminho foi lindo.

Foram 22 horas de trabalho de parto e mais duas de cesária, 24 horas de amor, não faltou amor e não existe nada mais humano do que isso, a capacidade de amar e de se conectar com esse sentimento da maneira mais preciosa. Sim eu tive um parto humanizado porque foi amoroso, amor por mim e pelo meu corpo, amor pelo meu parceiro de vida, amor pela minha médica e equipe, e acima de tudo a primeira demonstração do amor e devoção que o encontro com Serena iria precisar.

Hoje nos perguntam se tivemos o parto dos sonhos, respondemos que sim. O sonho não está no ideal, na cena de documentário sobre parto, mas sim na realidade e principalmente na forma com que nos relacionamos com ela e que agradecemos a vida assim, real e bela.

Namaste

Talita Matos, professora de yoga, natureba, adepta ao parto natural e a uma vida natural

Mãe da Serena

Mulher VIva

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