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O que aconteceu para que a menstruação deixasse de ser sagrada para ser desprezada?

Hoje em dia, mais da metade das famílias brasileiras já são matrifocais (segundo o IBGE), inclusive a minha, desde as ancestrais. Talvez por isso, a mestra exista em mim antes do diploma de mestrado. E o mais fantástico é ser mulher, cientista, bruxa e anja ao mesmo tempo, podendo vivenciar, honrar e compartilhar tudo que há de mais maravilhoso na irmandade entre Mulheres Vivas!

Há muito tempo existiram culturas Matrifocais, eram culturas onde o feminino e o masculino eram venerados e o bem-estar da comunidade era o principal, nessas comunidades venerava-se o corpo e a sexualidade feminina por ser criadora de vida e pela sua sabedoria. Eram culturas muito pacíficas, pois viviam rodeadas de prazer e tranquilidade. Conta-se que essas comunidades pouco a pouco sofreram ataques por outras culturas guerreiras, foram escravizadas, roubadas,… Pouco a pouco estas culturas pacíficas matrifocais sucumbiram para dar passo às culturas patriarcais, guerreiras, hierárquicas e onde a mulher era mais um bem para comercializar e possuir, tal como a natureza e qualquer bem.

Atualmente ainda estamos na época patriarcal, somos culturas guerreiras, centradas cada uma em si mesma, no individualismo e por isso a nossa sexualidade feminina, portadora de uma grande intuição e sabedoria, é negada e difamada.

Antigamente quando a mulher era venerada podia desfrutar e experimentar a sua sexualidade, deixar-se levar e aprender com ela. Conta-se que as mulheres tinham uma grande intuição, e a intuição não é mais do que uma grande sabedoria interna, uma voz que te indica e que te guia por onde ir, o que fazer, o que necessitas...

Estas mulheres evidentemente não eram fáceis de manipular, possuir ou enganar, desta forma, com o tempo, as culturas patriarcais descobriram que negando e difamando a sexualidade feminina poderiam cortar esta sabedoria inata que todas as mulheres têm. Maldisseram o nosso corpo de mulher, os nossos desejos naturais foram considerados pecaminosos, os nossos movimentos de ancas mal vistos, afastaram-nos umas das outras, isoladas cada uma com o seu marido. A transmissão oral da sabedoria perdeu-se, já não havia conhecimentos da sexualidade feminina, já não se transmitia a sabedoria do ciclo menstrual, nem tínhamos contactos com a vida, com os nascimentos. Para aprender a dar à luz é necessário ter visto dezenas deles e assim integrar a grande energia que há num parto e, sobretudo deixar de ter medo do nosso poder. Foi semeado o desconhecimento, o medo dos nossos instintos e do nosso corpo, e o que se desconhece teme-se, e o que se teme, neste caso, dói.

Dói a menstruação, dói, muitas vezes, fazer amor, dói dar à luz,… Dói porque desconhecemos, não há educação sexual, não há rituais que nos ensinam, já não há mestras…

Houve um extermínio em massa de mulheres que ainda recordavam e viviam diferente, as chamadas bruxas, queimaram-nas, silenciaram-nas e a sabedoria de todas estas mulheres ficou enterrada. A dor e o medo ficaram impregnados no nosso corpo, agora vamos pouco a pouco abrindo caminho para uma outra forma de sentir, de nos sentirmos. Temos um grande caminho por recordar!

Por isso ainda se despreza o sangue menstrual, pois mostra uma parte da sexualidade feminina tal e qual como é, direta, selvagem. Está claro que difamar e desprezá-lo é a chave para que não o toquemos, não o queiramos sentir nem nos deixemos levar pelo seu poder e descobrir, assim, que guarda grandes mistérios. Com o parto acontece o mesmo, desde quando necessitamos tantos instrumentos para dar à luz? Em Inglaterra, Holanda e noutros países é mais seguro dar à luz em casa com uma parteira que ir ao hospital. Foi-nos retirado o poder de criar, de dar à luz aos nossos filhos e à nossa vida e projectos. Na gravidez e no parto podemos ver isto claramente, o nosso corpo é considerado inútil que necessita ser controlado por máquinas e homens “profissionais”. Há milhares de anos que o nosso corpo dá à luz, em cavernas, rodeadas por mulheres, por parteiras, tal como os animais, sabendo como mover-nos, donde e com quem dar à luz,… Agora nada disso importa, é como nos vêem desde fora os médicos e as máquinas. Esquecemo-nos de confiar no nosso corpo, de aprender umas das outras, de criar irmandades e assim empoderar-nos.

Assim fomos perdendo a sabedoria de como menstruar, de como fazer amor e de como dar à luz, entre muitas outras coisas, vamos perdendo a sabedoria de como viver uma vida cheia de prazer.

Carla Trepat Casanovas

Traduzido por Cláudia Amaral

NDT: Matrifocal é um termo antropológico para definir a forma da estrutura familiar e social onde a mulher ocupa um lugar central sem exercer domínio da mulher em relação ao homem.

A sociedade Celta, por exemplo, era Matrifocal, isto é, o nome e os bens da família eram passados de mãe para filha. Homens e mulheres tinham os mesmos direitos. Em quanto que o termo “matriarcado” está vinculado ao domínio do feminino em relação ao masculino, assim como o patriarcado é relacionado ao oposto. Esta expressão, portanto, está ligada ao exercício de poder de um género sobre outro, e consequentemente à submissão.

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