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Relato de parto: Ray e Dom


Meu relato de parto, coisa engraçada… Já li tantos relatos de parto, pesquisei tanto, li e reli todos os que no fim não foram como a gestante planejou. Meu relato de parto começa no fim do meu primeiro parto.

Com 17 anos, me vi sozinha em uma sala de parto, aberta e completamente perdida, tinha acabado de ter minha sereia, Nina nasceu lindíssima, com 3,190 e 47 cm. Nasceu bem, de parto cesariana e foi ser pesada, medida, aspirada, examinada com o papai e tudo mais que podia ser feito e pra mim eles precisavam fazer tudo com muita pressa (não questionei nada), ela não passou nem um segundo comigo, tirou umas 2 fotos e não cheirei, não beijei, não amamentei. Nada, nada mesmo. Horas depois ela chegou no quarto, limpíssima e com muita fome, mas uma vez por falta de conhecimento de verdade deixei que ela ficasse a noite no berçário e lá foi amamentada e acalentada pelas enfermeiras…

O tempo passou e os anos foram passando e não consegui dar nome ao sentimento que tive naquele breve momento na sala de cirurgia, é breve mesmo, quase uma máquina de tirar bebês, entra na sala, deita de lado, toma a anestesia e pronto, foi como se eu nem estivesse ali, nem era comigo, várias conversas rolando mas nenhuma comigo. Sempre que alguém vinha falar sobre parto defendia minha escolha, se posso dizer que foi isso, já que não tive escolha, não fui apresentada aos pós e contras da cesárea e normal, dizia que tinha sido ótimo, fui com meu namorado (hoje marido e pai dos meus filhos) e toda família para uma maternidade linda e de luxo com hora marcada, cabelos e unhas prontos, tudo marcado desde o início da gravidez.

Quando a Nina tinha uns 3 anos me disse que eu teria mais 2 filhos, um menino e depois uma menina, analisei aquilo e pensei que acreditava naquilo de verdade. Uma amiga enfermeira me apresentou o filme “Renascimento do Parto”, caramba! Que choque de realidade, quanta coisa eu poderia ter sido poupada, quanta coisa minha filha poderia ter sido poupada, poderia ter curtido muito mais, eu não amo menos a minha filha por ter ficado menos tempo com ela, mas sinto ter perdido essa experiência única ao lado dela. Cresci ouvindo que cesárea era melhor, que dava pra se organizar melhor e acreditei nisso, sempre deixei muito todo mundo me dizer o que fazer e isso foi minando minha personalidade, eu até me posicionava em algumas coisas mas sofria com a opinião dos outros, tanto da minha família que eu sei que me ama quanto de amigos e conhecidos.

Enfim, logo depois de ver o filme pensei: “quando eu engravidar daqui a alguns anos eu vou fazer um parto normal”. Isso foi no final de dezembro, kkkkkk. Dia 5 de janeiro fui eu fazer um preventivo e a médica me disse que meu útero estava “macio”, eu não me lembro a palavra exata agora, mas no outro dia acordei e fiz um beta, no final da tarde estava lá o POSITIVO me esperando no site do laboratório. Era agora, iria ser dessa vez, eu precisava saber o que era parir, no primeiro momento eu só dizia que queria parir, não precisava ser humanizado, não precisava ser na banheira, nem ter velas. As semanas foram passando e fui visitar várias obstetras. Quando a gente estuda um assunto é um absurdo ouvir loucuras dos especialistas que deveriam saber muito mais do que a gente. Ouvi desde tirar o bebê a ferro até na cesariana era normal, ouvi que eu não era índia e que não conseguiria ter um parto normal, ouvi que eu não era atlética e por isso não conseguiria passar por horas a fio tentando um parto normal sem sucesso já que a minha filha havia nascido de cesariana, ouvi que eu estava sendo muito egoísta e que a gravidez não era só minha e minha família iria ficar apreensiva e preocupada, que o parto poderia não calhar com o horário que minha família estaria disponível para nos acompanhar e mais umas mil frases insanas e totalmente sem noção!

Por fim minha amiga enfermeira me deu alguns nomes de grupos no Facebook e conheci um anjo, uma doula que infelizmente não tive condições que acompanhasse meu parto, mas ainda assim ela conversou muito comigo sobre parto, sobre as verdadeiras indicações de cesárea, sobre coragem, empoderamento e me deu o contato da Dr. Luciana. Na primeira consulta fui com uma amiga, me senti tão respeitada, senti que estava sendo ouvida e que minha opinião estava valendo de alguma coisa, na primeira consulta foi só uma conversa, uma sondagem do que realmente se tratava, eu estava bem e o bebê também, falamos sobre quase tudo e tirei algumas dúvidas, e acreditem, não existe dúvidas idiotas, existem respostas medíocres, e nenhuma resposta da Dr. Luciana foi medíocre, em todas as respostas não houveram termos como mãezinha ou deixa o parto comigo, eu me senti dona ou com o papel principal dessa situação – a minha gravidez.

As semanas foram passando e a barriga foi crescendo, e a paz em mim só aumentava. Bem no início eu perguntei a Deus se esse sonho era pra mim, se isso era um plano D’ele pra minha vida e se teria um desfecho positivo, me considero uma seguidora de Jesus Cristo e pedi a Ele que se fosse da vontade D’ele que ele me capacitasse e minha mente se enchesse de uma paz que excede todo o entendimento… Continuando, Deus só fazia confirmar em mim a vontade de parir.

Minha família foi percebendo que a coisa estava ficando séria e me questionava muito sobre tudo, e foi o ponto auge mais cômico da minha gravidez, minha família inteira, completa no consultório da Dr. Lu, perguntando tudo, contando histórias e sendo muito muito presentes (intensamente kkk). Parecia uma sala de aula muito louca! Eu e a Dr. Lu trocando olhares e eu tenho certeza que ela estava rindo por dentro, porque eu também estava.

No fim da gravidez tive diabetes gestacional e foi tenso, chorei… Fiquei preocupada, não ia mais poder esperar em casa a boa vontade do Dom nascer, só tinha até 38 semanas, corrida contra o tempo, dieta, endocrinologista, bater perna na piscina e quase pirei! Perdi peso na reta final, mas o Dom não chegou a descer, o tampão mucoso começou a sair e eu sentia de vez em quando uma cólica, na gravidez também tomava remédios homeopáticos e isso me ajudou muito. Relaxei, passei a semana (38 para 39) dormindo e dando atenção a minha filha, e principalmente, o tempo todo conversando com Deus. Fui eu pra consulta com a minha irmã e o Dom já tinha descido! Ela me disse que aquele era o limite por conta do diabetes descompensado (na verdade na semana anterior, mas tive um bom comportamento e medi a glicose uma 6 vezes por dia todo dia). Me perguntou se eu topava ir no mesmo dia para a maternidade logo a noite e eu disse que sim numa tranquilidade kkk (só que não), minha irmã perguntou se eu estava bem e eu disse que sim, claro que sim e elas disseram que dava pra ver minha veia pulsar…

Estava chegando a hora e as emoções estavam a flor da pele, muita alegria. Emoção total ao sair do consultório, minha irmã me levou em um salão em frente e deixou a mulherada louca! Quase morri rs, todo mundo muito mais nervoso que eu e fazendo meu cabelo. Chegamos na Perinatal de Laranjeiras e percebemos uma resistência do sistema, até um documento para cesariana me deram pra assinar e eu precisei explicar meu parto ia ser normal, todo mundo me olhando como louca, tudo bem, já tinha saído do consultório com 2 de dilatação e a Dr. Lu colocou um krauser evoluindo para 4 de dilatação, passamos a noite bem, comemos bem, bebemos suco e no dia seguinte de manhã ela chegou pra começar com o sorinho, colocou e foi aumentando a dose gradativamente e nada!

Não vinha uma contração, começamos a sentir medo de eu não ter reação à ocitocina, depois de muita ocitocina vieram as contrações, só que a minha família também chegou e pra mim foi pânico total, todo mundo no quarto falando ao mesmo tempo, vendo TV e dando pitaco nas dores e expressões que eu fazia, graças a Deus fomos para sala de parto, eu meu marido e a Dr. Lu, ali eu já estava bem melhor e tranquila, paz, silêncio e calma. Demorou muito pro Dom nascer, ele nasceu só 07:30 da manhã, o limite para cesariana era as 08:00. Me lembro do Bruno pedindo a Dr Lu se podia dar o toque para ver em que pé estava o trabalho de parto e ela respondendo sempre que o Dom nasceria no momento dele, quando chegamos na sala de parto o pediatra Arnaldo e a Anestesista já foram chegando também e nos deram total suporte.

Quando enfim cheguei aos 7 de dilatação pedi anestesia, quando estava com 10 de dilatação a Dr me perguntou se eu já tinha chamado meu filho, eu ri e pensei – vou chamar não kkk Estava tocando uma musica horrível no rádio (não fiz playlist) e o pediatra disse, aaaah já sei porque esse menino não nasceu, trocou de música e chamamos por ele, ele veio com mais de 4 quilos, 50,5cm quase não deu pra segurar rs.

Beijei, cheirei, amei e abracei e tudo que eu tive direito, minha recuperação foi ótima e 24 horas depois tive alta. Apgar 10 e felicidade 1000! O Dom nasceu, e eu renasci, como mulher, como mãe, como apaixonada por Deus, melhorei como pessoa, me vi como uma voz que pode sim ser ouvida.

Amei parir!!! 17 horas de trabalho de parto ativo, muita atenção, muito carinho, muita alegria em estar ali partejando com os melhores, obrigada Deus, meu Paizinho querido; obrigada marido, parceirão, ao meu lado todo o tempo sem deixar a peteca cair, obrigada Dr Lu, médica linda por dentro e por fora, humana e não só humanizada rs, respeitosa e totalmente amável, se tornou uma amiga; obrigada Dr Arnaldo, além de conversar comigo durante o trabalho de parto e depois ao vivo e pelo telefone foi totalmente sensível mesmo depois de muitas horas de parto me deixou ficar bastante tempo com meu filhote; obrigada Dr Ana, me deu total suporte, anestesia e muita atenção. Obrigada a toda a família e amigos, pelas orações e desejos de felicidades. EU PARI!!!

Rayssa Macena

Mulher Viva, mãe da Nina e do Dom

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